Thursday, October 06, 2011
Quero o teu amor porque é a tua fraqueza e o meu poder sobre ti
ROUBEI.
Diz-me, o que é que eu faço de ti? Como arranco cá de dentro essa tua loucura peganhenta que se me colou à pele? Uma incisão, por onde te espremerei como pus? Queimo a ferida? Arranco os membros, um a um, esvaio-me em sangue para me esvair de ti? Ando doida, pior que tu. Não sei se por osmose se por cansaço extremo, um rancor nauseante transforma-se-me rapidamente numa sede de beijo e, logo depois, numa raiva insustida, num ensejo, numa brutalidade cortante. Quero estar linda quando te apareço para te fechar as pernas, recusar-te o toque, atirar-te à cara com a minha vontade dos outros, que me esforçarei por fingir. Quero magoar-te e levar-te em braços. Dar-te colo enquanto te espeto de mansinho nas costas abandonadas um objecto longo e perfurante, que te ronde algum orgão vital, sem te matar para que nunca deixes de me cheirar, para que os teus sentidos se mantenham todos alerta, na minha direcção, sempre. Diz-me, a quem te entrego para que te cuidem, para que eu possa cuidar de mim? Quero infundir-te desespero, provocar-te lágrimas, e depois lambê-las. Quero-te longe e ainda mais te quero perto, à mercê dos meus pés, das minhas mãos, das minhas traições inventadas, dos meus devaneios controladores. Ando tresloucada e ciumenta, mas apetece-me entregar-te a todas, para ter motivo válido para te arrasar e fazer com que te enroles a um canto como um bicho, consumido pela culpa, arrependido pelo que achaste que perdeste. Quero que sofras, nem que isso acabe comigo. Quero ter a certeza de que nunca seremos felizes e esfregar-to na cara enquanto te pego na mão e te levo a passear, namorados insuspeitos, numa aparência de normalidade. E, de repente, o meu riso cínico que ecoa na tua estupefacção, a frase maldita que te enfraquece os joelhos. A provocação, quero a provocação, o quereres e não teres, a machadada final na esperança, o agora sim mas afinal não, o devolver-te a disfuncionalidade que plantaste em mim como uma semente negra, uma cruz do avesso pendurada na parede. Quero o teu amor porque é a tua fraqueza e o meu poder sobre ti. Agora diz-me, o que é que eu faço de mim?
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