Tuesday, March 17, 2009


"Queria que me levasses para uma pensão rasca com águas quentes e frias, daquelas com nome de enlevo patriótico a lembrar o império português, só com escadas, que subiríamos ao ritmo descompassado do coração para um quarto esconso ao fundo de um terceiro andar com vista sobre a cidade, nas tintas para o cliché. ..... Nem me importava que me achassem puta e a ti, cliente, quando nos vissem correr urgentes pelo tabuado velho do corredor estreito, o cheiro a batata doce de alguém a cozinhar cachupa no quarto a colar-se às paredes húmidas onde os meus dedos nervosos tacteantes evitariam os fios descarnados, nós tontos de desequilíbrio com o desejo a nadar-nos entre as pernas, qual é a merda da porta. Queria que me amasses com a calma de todas as coisas no bafio escuro de uma cama suspeita de não ter sido lavada, a luz de Lisboa a entrar e a refractar-se nos bocados partidos dos azulejos pombalinos rematados com cimento, os inteiros entretanto vendidos na ladra para irem pagando aos poucos os remendos da canalização, águas quentes e frias..."
in umamoratrevido.blogspot.com

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