Friday, March 19, 2010
Porque numa sociedade assim, desregrada, sem o conforto dos ritos que nos marquem um mínimo denominador comum, a prioridade é sobreviver. E a sobrevivência é uma luta urgente, irreflectida e precipitada. E toda esta urgência mata o sonho e apaga a luz ao futuro.
O Leandro não sobreviveu porque não viu as balizas, porque na voragem do quotidiano o futuro não existia, porque na luta diária não descobriu o sonho, porque no seu juízo estava sozinho. E por isso desistiu.
O Leandro tinha doze anos - o dobro dos da Constança, que quer ser cavaleira, o triplo dos do Manel que quer ser ‘arranjador de carros’ e o sêxtuplo dos do Diogo que para já não quererá muita coisa – e a sua morte deixou-me como lição a urgência, essa sim, de prolongar o sonho aos meus filhos, para que nunca as circunstâncias de um momento, lhes possam apagar o sentido da vida.
Manuel Sampaio Pimentel "margens da crise"
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